Regresso
Quando, como aconteceu quase-hoje, o mundo parece desabar e me vejo perdido e incapaz de quase nada ou nada-mesmo, regresso à poesia persuadido da salvação: eu que sou incréu intermitente, homem de pouquíssima fé, nenhuma nos milagres, alguma nos homens e mulheres que lutam e não desistem.Nestas alturas lembro-me sempre, talvez para levantar o ânimo, da célebre frase atribuída a um ex-presidente do Brasil: " Quando cheguei ao poder estavamos a beira do abismo! Comigo demos um passo em frente!" Declarou, do alto de sua prosápia, o homem que iria governar, nada menos que, o Brasil! Perder-me, como agora, também faz parte da deriva, do desassossego que o mundo me entrega de mão beijada, sem que o peça, sem que eu o queira! Dizia eu que regresso às palavras certas - é isso a poesia!- à magia de não sei o quê, a uma suposta entidade protectora, que sei eu? E, nem de propósito, hoje, quando tudo parecia perdido, encontrei, no livro de crónicas "O Eixo da Bússola" de Mário Cláudio, estes versos de Carlos Queirós : " Ver só com os olhos/ É fácil e vão.Por dentro das coisas/ É que as coisas são."
A casa onde às vezes regresso
A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos
Durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração.
A casa onde às vezes regresso
A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos
Durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração.
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