O Medo

Durante muitos anos estive convencido que o famoso quadro do homem tapando os ovidos, com aspecto de perdido, se chamava O Medo, até ao dia em dei conta que tinha sido roubado e afinal, se chamava O Grito. É claro que para mim será sempre a personificação do medo, foi assim que o vi, foi assim que o entendi, é assim que o vejo, mas já não sei se entendo.
Sempre ouvi dizer que "o medo guarda a vinha" e até era capaz de acrescentar que guarda a vida, sim, porque os heróis, ao contário do que muita boa gente pensa,são aqueles que fogem e têm medo, afinal os que pensam. Todo este arrazoado para pedir permissão de citar o filósofo português, homem esclarecido, com bom senso e bom gosto, mas sobretudo com o salutar hábito de pensar. Ora aí vai o que escreveu na sua crónica da revista Visão nº 739, intitulada precisamente "O Medo". Diz, entre muitas e boas reflexões, o seguinte:"O medo encolhe os cérebros, reduz o espírito, fecha os corpos.E o medo tem a particularidade de alastar. Ao medo social de perder o emprego, de não subir na carreira, de perder as pensões, de não aguentar tanta pressão e constrangimento em tantos domínios, junta-se agora o medo de protestar, de falar, de se exprimir. O medo social está a tornar-se político: tem-se medo do Governo e, talvez um dia, do primeiro-ministro."
Digam lá agora se estas palavras não assentam que nem uma luva na sociedade portuguesa e, boa parte delas, caem como ginjas em cima dos professores e da mal amada função pública.
Tenham um bom dia e esqueçam-se disto, afinal o Vitória subiu à primeira liga!