> CRIATIVIDADE: agosto 2008

CRIATIVIDADE

domingo, agosto 31, 2008

A Ressaca



Se já começou a sentir uma ansiedade miudinha com a perspectiva de amanhã voltar ao trabalho, sinais de irritação e cansaço, é provável que esteja a experimentar a síndrome pós-férias.

Estima-se que cerca de 40% dos trabalhadores evidenciem dificuldades no regresso à vida real, dos horários, das obrigações, das contas para pagar. No entanto, para alguns, as férias são uma fonte de rendimentos simbólicos e sociais. Vai-se de férias para ter o que contar e impressionar os amigos.

Estudos realizados em países como Espanha e Brasil revelam que quatro em dez pessoas registam, nos primeiros tempos de trabalho, sintomas como irritabilidade, cansaço, tristeza, mau humor ou alteração dos padrões de sono e de apetite. "Não se trata de uma verdadeira depressão", explica Telmo Baptista, psicoterapeuta e presidente da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva. O que se verifica é a existência de uma reacção adaptativa - por vezes difícil - ao trabalho, marcado por um registo de dever, depois de um período de lazer e sem obrigações.

As férias são uma realidade diferente. Basta não ter horários para estar num registo distinto. Mesmo para quem não vai para fora, há uma libertação dos "deveres quotidianos", sublinha o psicólogo. Evitam-se as "chatices diárias" e, durante uns dias, faz-se mais o que se quer e menos o que se é obrigado.

Este regresso ao emprego é tanto mais doloroso quanto mais adversas forem as condições de trabalho. Nesta situação, as férias, mais do que uma pausa, são vivenciadas como uma fuga a um estado aversivo e a retoma de funções significa, portanto, um enorme um sacrifício. E não há férias que dourem um mau emprego. Quando muito, são um balão de oxigénio. De curta duração, já que os benefícios da pausa do trabalho tendem a esvanecer-se rapidamente. Uma investigação da Internacional Stress Management Association do Brasil concluiu que 70% dos trabalhadores evidenciam, nas primeiras semanas a seguir às férias, níveis de stress idênticos aos registados antes da pausa para descanso.

"Quem vai de férias, procura novas sensações e a descoberta, em si, de outro tipo de emoções e de experiências", sustenta o sociólogo Albertino Gonçalves. O que se pretende já não é tanto descansar, mas, antes, a excitação de descobrir e experimentar algo que é valorizado pelo próprio e pelos outros. "As férias passivas já não estão na moda. Mesmo nas termas e spas, o tempo já não é usado exclusivamente para descansar", acrescenta.

"As férias exóticas, de desportos radicais, de perfomance e também os retiros, estilo New Age, são o tipo de férias que mais está a crescer, porque apelam àquela parte de mim que não exploro no quotidiano", explica o professor da Universidade do Minho. Esse estado de abertura de espírito ao mundo e ao outro traduz-se numa disponibilidade para viver experiências que normalmente estão fora de cogitação.

A partilha das aventuras com os amigos é um "ritual de transição" que ajuda a atenuar a síndrome pós-férias. "Quando se regressa, não se aterra imediatamente na realidade. Há umas semanas em que as experiências de férias continuam a render no quotidiano", diz Albertino Gonçalves. "Se consegui fazer algo de diferente, radical ou inacessível, sou visto como excepcional. Isso é um rendimento simbólico", acrescenta.

O "exibicionismo de férias" é patente nos obsessivos com fotos e filmes: é preciso registar, documentar, ter provas para impressionar o grupo de amigos a quem já se planeia contar tudo, ao mais ínfimo pormenor, ainda durante o tempo em que, teoricamente, se está desligado. E se, por sortilégios do destino, as férias são marcadas por um acontecimento extraordinário, como um cataclismo natural por exemplo, há mais para relatar - e os ganhos sociais multiplicam-se.

Para quem não tem trabalho garantido em Setembro, como os professores contratados, o fim de Agosto é vivido com profunda incerteza. "O fim das férias já não é regresso à monotonia. Os tempos são de insegurança, de incerteza para muitos portugueses", considera o sociólogo.

Mas, mesmo para quem não enfrenta a ameaça do desemprego, Setembro é um mês de aperto financeiro. Os excessos das férias pagam-se agora e o início do ano escolar sorve o que as contas do cartão de crédito não tiverem subtraído.

O marketing há muito que descobriu o poder do "compre agora, pague depois". Compra-se de tudo, até pacotes de férias, e começa-se a pagar meses depois. Depois da euforia do consumo, surge a factura. Julho foi o mês que a Deco (Associação para Defesa dos Consumidores) registou mais processos de sobreendividamento. E ainda não está contabilizado o mês em que mais portugueses fazem férias.

Se, amanhã de manhã, tiver dificuldade em dizer adeus aos chinelos de praia e à t-shirt colorida e for acometido por um mau humor súbito, não fique preocupado. É apenas o síndrome pós-férias. O truque, dizem os especialistas, é não ter pressas. Começar por tentar regularizar os horários das refeições e do sono e não exigir demasiado. "É preciso dar tempo à readaptação ao novo ritmo. Não temos interruptores de liga/desliga".


In JN 31/8/2008

É necessário mais sabedoria e que dada as agruras dos tempos que correm se deixe de andar sempre sempre a dizer : " e ainda o que vem aí!... " ,como se isso fosse uma forma de motivação para o trabalho, a melhor maneira de aumentar a produtividade ou tornar mais agradável a vivência laboral...